Brasil e Angola: Relações Históricas e Desafios Contemporâneos
O Brasil mantém uma complexa e histórica relação com Angola, cuja influência se reflete na cultura, sociedade e na demografia brasileira. Estima-se que boa parte da população brasileira seja descendente de africanos, especialmente da região de Angola, a principal fonte de mão de obra escrava que chegou ao Brasil entre os séculos XVI e XIX. Dados do Slave Voyages apontam que das cerca de 4,8 milhões de pessoas escravizadas que desembarcaram no Brasil, aproximadamente 3,8 milhões eram da região centro-ocidental da África, conhecida como Congo-Angola. Esse laço profundo entre os dois países se transformou ao longo dos séculos, ando por diferentes fases, desde a época colonial até os dias atuais.
No contexto atual, durante o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil busca reaproximar-se de Angola, diversificando suas relações comerciais além dos tradicionais setores do petróleo e agronegócio, que historicamente dominaram o comércio bilateral. O movimento é um reflexo das mudanças na dinâmica geopolítica e econômica que influenciam a interação entre as nações. Historicamente, após a independência do Brasil em 1822, políticos angolanos solicitaram a anexação de sua região ao novo país, o que, embora tenha tido apoio inicial, foi barrado por disputas internacionais e dificuldades internas do Brasil.
O professor Gilberto da Silva Guizelin, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), destaca que a relação entre os dois países se deteriorou ao longo da República Velha, quando o Brasil adotou políticas de embranquecimento, excluindo a população negra da vida econômica e social. A redemocratização trouxe algumas oportunidades de reaproximação, mas governos subsequentes, como os de Fernando Collor e FHC, priorizaram alianças com os Estados Unidos e a Europa, relegando a África a um segundo plano.
Com a ascensão de Lula em 2003, uma nova política de relações Sul-Sul emergiu, buscando fortalecer os vínculos com outros países em desenvolvimento, principalmente os de língua portuguesa. Em contraste, os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro viram um retrocesso nas relações diplomáticas e comerciais, com o fechamento de embaixadas em países africanos e a falta de visitas oficiais ao continente.
Em 2025, Lula se empenha em reavivar as relações com Angola, aproveitando as lições do ado, embora enfrente novos desafíos, como a falta de recursos que acompanhavam suas iniciativas anteriores. As reuniões oficiais entre Lula e o presidente angolano João Lourenço marcam essa nova fase, indicando a intenção de explorar cooperações em áreas como agricultura e saúde, enquanto tentam criteriosamente restaurar um laço que, embora histórico, enfrenta dificuldades na contemporaneidade.
Presidente Lula recebe o presidente de Angola, João Lourenço, em cerimônia oficial no Palácio do Planalto em maio de 2025 – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Conheça as relações Brasil-Angola: da escravidão ao petróleo e ao agro
Fonte: Agencia Brasil.
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